sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

resoluções

Foram emoldurados antes do fim de ano, guardados no armário.
Estarão na parede ano que vem, ao lado de outros quadros.

(da série poesia na rua, 10

14:10/27.dez.06 - vizinha)

Entrando, esbaforida:
- Mas há sexos que estou esperando esse elevador!

argumento

Ter coragem é agir com o coração.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

no comércio 3

Não lhe bastou o lanche à beira estrada. Assim que aportou na rodoviária correu ao Restaurante Mata Fome. Deglutiu às pressas um pê-efe bem guarnecido.

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

no comércio 2

Sentia-se especialmente feia naquele dia. Avistou de dentro do carro o letreiro e freou bruscamente. Entrou no Cabelereiros Star Bella e solicitou um dia da noiva.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

no comércio

E num momento cansado ele leu na folhinha sobre a mesa: Floricultura D'lírios. Atendimento 24 horas. Correu para lá e encomendou sua própria coroa.

domingo, 24 de dezembro de 2006

umbigada

As reuniões correram tranqüilas, apesar da preocupação do prefeito. Alguns vereadores estiveram ausentes. Nas mesas de negociação sairam negócios, ora pois. Não se falou de política mais que o mínimo protocolar. Inevitável a pergunta: em tempos nebulosos o que ainda será de esquerda, além do coração?

sábado, 23 de dezembro de 2006

andarilho

O processo era de purgação. A manhã era de outono. A vontade era de primavera.
Acordou no meio da noite, com a cabeça rodando e um nó bem grande na garganta. Do alto de sua inconsciência, tomara a decisão: seu destino seria aquele, independentemente do custo. À maneira do poeta tomou seu guaraná em pó dissolvido em água e pôs-se a caminhar. A estrada seria longa, às vezes deserta como na estória infantil.
Tomou o cuidado de não deixar pegadas e nem olhar para trás. Nunca mais voltou.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

perto

De quatro ninguém é normal!

L'ÊTRE AVANT LA LETTRE

]Paulo Leminski
...la vie en close
c'est une autre chose
.
.c'est lui
..........c'est moi
...................c'est ça
.
....c'est la vie des choses
.qui n'ont pas
..................un autre choix

(tênis branco)

a saia era em tecido enviesado
pena a falta do sapato envernizado

amor reflexo

(e ele fez a barba no espelho decorado com batom)

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

forró

Hoje dançaremos ao som de Sivuca!

sertão

Quando o compadre abriu o panelão para servir estava lá, o crânio do macaco sorrindo.

frenetica attività

O giro do motor fica mantido sempre alto, que assim não se fadigam os pistões.

insônia-mor

O tempo coagulou na sangria desatada dos dias como há anos.
As respostas são novas depois de perdidas as mensagens.
O dia ensolarou diferente da noite em claro esplendor.
As músicas tocarão bem alto de agora em diante.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

atendimento vip

A vida urbana anda cada vez mais difícil, nem com algum dinheiro no bolso a coisa se resolve.
Nas boas padarias já não tem mais leite A; quando há, o prazo de validade é o de hoje, ou contente-se com o longa-vida mesmo.
Nas boas farmácias falta o antibiótico genérico; o de laboratório consagrado é bem mais caro, mas se chorar a gente tira o excesso do lucro embutido no preço e dá 20% de desconto.
Nas boas livrarias a seção de poesia não ocupa mais que duas prateleiras; é possível encomendar, compre pela internet.
Nas boas papelarias o papel fotográfico fosco para impressão dupla face sai pouco; temos então a meta de venda mensal e a incrível quantidade de um pacote na prateleira, estoque a gente não mantém.
Eu posso estar verificando no sistema... Vai pra puta que o pariu!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

réveillon capixaba

Lá em Vila Velha a festa de fim de ano da classe média (termo caindo em desuso no país, significando as pessoas que nem são pobres e nem são ricas) acontece diferente. Famílias pequeno-burguesas (termo em total desuso) reúnem-se em tendas montadas na areia da praia, loteando toda a orla com festinhas particulares no dia trinta e um.
Na casa da avó de uma amiga canela-verde os parentes dividem-se por idade: há a mesa dos adultos (na qual são permitidos já alguns primos de dezessete) e a mesa das crianças, verdadeira algazarra. Em encontro familiar recente, a ala adulta deliberava as funções de cada um na preparação do tão aguardado réveillon: Fulano cuidará do isopor, Sicrano da comida, Beltrano da montagem da tenda, etc. O clima era estranhamente calmo até que o priminho soltou o grito lá da ala infantil:
- Eba, suruba familiar! É, suruba!!!
Os mais velhos se entreolharam, pasmados com o comentário do garoto de cinco anos. Minha amiga perguntou pro tio:
- Mas ele sabe o que é isso?
- Que nada, outro dia ele me perguntou que comida era esse tal de cabaço, que todos os seus colegas de escola queriam experimentar...
E prosseguiu inabalado, voltando-se para o filho:
- Normalmente uma pessoa faz sexo com uma outra, não com todas ao mesmo tempo. Suruba...
O garoto ficou assim vermelhinho. Com os olhos esbugalhados, levou a mão à boca.

tempo circular

nem menos pesado nem mais leve
nem mais triste nem menos feliz
sem mais nem menos
com a real certeza (no telefonema)
de que continuo o mesmo, mesmo outro.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

profecia

Ela tem aquela uma tatuagem ali em cima da cicatriz, além de todo resto.
Mas nada mais resta, fora a mixa expectativa da visita que não sei minha.

alva

Encontrei-o três vezes seguidas, em três dias consecutivos. Uma na farmácia, duas no elevador. Ele perguntou-me dela. Eu lhe contei, ele nem quis ouvir, triste. Uma moça inteligente, minha senhora gosta muito dela...

smirnoff à gulliver


E então os pequenos habitantes de Liliput soltaram uma a uma as amarras que prendiam Gulliver à terra, num trabalho paciente e demorado.
E todos dançaram e cantaram a noite toda, bebendo grandes-pequenas quantidades de uma bebida clara, cristalina.
A Gulliver foi dado experimentar uma pequena garrafa dessa bebida.
Sob o olhar atento de todos, Gulliver experimentou, sentindo um leve roçar em sua língua.
Um dos pequenos habitantes, através de um mímica desajeitada que a todos fez rir, explicou a Gulliver que a bebida era boa porque, por mais que ele bebesse, continuava sem nenhum hálito denunciador.

sábado, 9 de dezembro de 2006

sábado, P. S.

Clico o mouse com dificuldade. O dedo adormecido. Recebi um recado pelo celular: cuzões! Liguei imediatamente para o cara e mandei-o para a puta que o pariu. Eu estava saindo do hospital, depois da costura. Está melhor? Perguntou em outro tom. Sim, agora já posso enfiá-lo no seu cu! Dez dias sem beber, pelo antibiótico. O senhor já tomou? Tem alergia? Olha aqui doutor, eu conheço aspirina e novalgina. E não toma outros nem para outros fins? O mundo anda bem louco, ou a minha cara. O canivete presenteado pelo tio dela fechou no indicador. Meu aluno (amigo) bem que previu. Hoje vesti minha fantasia de professor pela última vez no ano. Dentro do possível, o exercício final e tardio do curso até que deu certo. Mérito dos poucos sobreviventes. Este ano precisa acabar. Minha garganta dói. Depois de uma semana bêbada, terei minha desintoxicação obrigatória e o pior, meu aniversário no meio. Ontem tive um encontro esperado e inesperado. O telefonema matutino foi também assim. Uma amiga me disse há três meses atrás do meu coração generoso. Um vagabundo, isso sim. Generosas são algumas mulheres que ele conheceu. Ainda não cheguei em casa, parei aqui pra virtualizar. Mandei convite, mandou também emeio ela. Almocei tchulant no Bom Retiro, lembrei-me da fabada asturiana em Madri. E que pudim aquele... Comprei um quilo de sonho de valsa. Cheguei às dez, só eu. A namorada dele é muito bonita, tomara que ele não volte a beber. Aprendi um novo nó, isso me emociona. A menina foi direto da balada pra montagem. Eu sai antes de acabar, deixando para trás uma trilha de pontos vermelhos. Agora terei uma cicatriz. Antinflamatório, antitetânica. Meu dedo ainda sonha!

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

de saída

Vou encontrar-me com o prefeito!

comentários

A amiga mesmo comentou do perigo do lugar. Na escola, comentaram também de seu cabelo crescido. Ele quase entrou de novo na igreja de Nossa Senhora Auxiliadora. Os troianos reuniram-se naquele bar. Esqueceu-se do aniversário do amigo. Ela arrumou confusão com o namorado. A Augusta parou pela chuva. Encheu a cara dois dias seguidos. Farão cabeças cada um a sua. Montagem de exposição enfim. Perguntaram-lhe da separação. Ele revelou seu segredo (ou o segredo dela) pro outro amigo. No sábado, bem capaz que se encontrem. Madrugada, internet pegou. Viram tudo da janela ontem. Trocaram as janelas daquela outra escola. No aniversário ele vestirá camisa nova. Combinaram um bingo qualquer dia. Até que se portaram bem frente aos cegos. Carne seca duas vezes em horas. Cedo tem de novo o pessoal. Sem dinheiro pra faxina de amanhã. Precisa confirmar o local e encomendar a torta. Será dele o elogio? Quanta saudade!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

D. Yvone

Sonho acalentado há anos é esta minha secretária: senhora de meia idade, seios fartos, braços fofos e colo macio. Com ela a cobrança virá em boleto. Cuidará como ninguém do prosaico precipitando toda solução a qualquer problema. Com voz grave pronunciará, reiteradas vezes, a seguinte frase:
- Sr. Humberto, desculpe-me: tomei a liberdade de pagar suas contas que venciam ontem.

merry christmas


quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

curto

(achei que luz do banheiro)
dedo no interruptor, poc na lâmpada

Antônio

Ele chegou assim por emeio. Trouxe consigo lembranças de outrora. Salve!

encontro

Eles se conheceram quase que ali, no desembarque do aeroporto. Tinham trocado correspondências por um tempo. Entre um e outro abraço o deles, demorado (sentiram-se os cheiros). Ele trouxera na mochila, em embrulho caprichado, um coração de pedra, que ela deveria pendurar em casa. Ela trouxera na mala, entre recordações de viagem, um disco de Bob Dylan, que ele deveria ouvir bem alto. Despediram-se ali mesmo. No andar superior, era a vez do embarque dele.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

três retratos divertidos

Àquela época eles frequentavam cabine de foto automática.

enxurrada

Chovia a cântaros (há dias que pesam mais que outros).
Vou riscar da folhinha a data, já tirei você do dicionário.
Pitangas apodreceram em lágrimas, rosas secaram em livros.
Hoje vesti minha camiseta da memória, arranquei-lhe a etiqueta.
Mormaço (dentro e fora), tudo cinza.

cinema mudo

Em frente de casa há uma locadora, na rua mora muita gente.
Lá tem televisão na vitrine, passa sempre um filme qualquer.
Um dos moradores da rua, toda noite, vai ao mini-cinema.
Carrega um sorriso largo, indisfarçado pela barba hirsuta.
Elegante, veste camisas floridas e penteia-se para a sessão.
Acompanha cada uma cena ao passo em que caminha miúdo.
Adivinha cada um diálogo enquanto movimenta o maxilar.
Seu saco fica ali no chão, esquecido para sempre àquela hora.

pedras matutinas

Porque tinha baixa a calça e pesada a mochila, ralou todo o cóccix!

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

rola-bosta, por Manoel de Barros

para a Srta. Mingus
.
"Besouro só entra em amavios se encontra a fêmea dele vagando por escórias."
:
"Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes."

indolor, 3

Por estar duro como uma pedra no ermo e por já não sentir mais dor alguma, devo estar morto.

indolor, 2

Por ser o momento impróprio e por não saber mais das propriedades do tempo, devo estar morto.

indolor

Por ter já despencado da corda bamba e por não haver rede de segurança, devo estar morto.

sábado, 2 de dezembro de 2006

águas de lindóia






quando se está perto

as noites azulam enluaradas na janela para o mar
os dias amarelecem como golfinhos brincando nas águas
um cheiro esverdece maduro sob a unha rente do indicador
esta massa cinzenta rosifica-se no hipotálamo de lírios
distância de quem descoloriu o mundo fica maior

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

para organizar depois

que prazer o de viajar num dia qualquer assim conhecer mais um pedacinho kitsch desse nosso país que logo logo vai virar imagem de uma série com marcador ali do lado lodo ledo engano desde criança o encanto pelos baldes vermelhos luminosos daquelas longas viagens narradas duas vezes numa só semana aqueles pauzinhos das bandeiras que eu sempre desejava na caravana interrompida chave pra abertura de uma estrada que era só minha que os caminhões todos de lá parar prum lanche aquele rack bagageiro mais a gasolina assim em galões a tempo de explodir a qualquer momento os chaveiros coleção até hoje lá noutra cidade desvios a galinha

sô/ só (de improviso)

pé na estrada/ minhas minas
e o porvir já foi/ adiamento adiantado
promessa fui cobrar/santo não
e o tempo/ tão impróprio
no monte/ nas campinas
palavras/ ao paladar
dois mignons com queijo/ uai

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

sarna na cerveja, 2

Ser ou não estar? Essa é a questão!

(da série poesia na rua, 9

13:13/29.nov.06 - no poste do viaduto)
*
LUNAS
*
PRECISA-SE
*
de moças acima de 18 anos
para trabalhar
em privê de luxo.
*
Oferecemos almoço, moradia
e ajuda de custo
Retirada semana acima de R$ 600,00
*
Entrar em contato pelo tel:
6671-0696
*

Aforismo 276

A gaia ciência
Friedrich Nietzsche [via amiga histérica]
*
"Para o ano novo. - ... Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas: - assim me tornarei um daqueles que fazem belas as coisas. Amor fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer a guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que a minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!"

re-volver

mãos ao alto!
bola pro mato!
gelo no malte!

(cicatriz)
(trânsito)
(fome)

sarna na cerveja

plum
plumb
plumber

sátira

Seu silêncio me faz embebedar.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

transgênio

Decidiu-se por uma pós com ênfase em recursos híbridos.

ceia de amiga histérica

Receitas para um Natal feliz

Peru à moda Lorena Bobbit

- dois perus grandes (atenção: retirar o prepúcio)
- ameixas, pêssegos, abacaxi em calda
- farofa de Natal (para rechear os corpos cavernosos)
- brincos de princesa para decorar

Modo de servir: quentes, douradinhos, crocantes. Cortar fatias finas, comer com molho de sua preferência. Se algum conviva alegar dor de cabeça para não degustar a iguaria, ofereça uma aspirina.

Sangria Jim Jones

- 14 litros de vinho chapinha
- frutas picadas
- 2 litros de gasosa
- arsênico a gosto

Modo de servir: misturar tudo em uma pia batismal. Dançar uma ciranda medieval com os convivas ao redor. Servir em taças descartáveis para não dar trabalho à faxineira. Erguer um brinde ao projeto humano e sorver lentamente. O último que ficar é mulher do padre.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

boletim educativo


DELEGACIA ESPECIAL DE POLÍCIA DO MUNICÍPIO DE MANTENA
BOLETIM N°2

VENDA DE CACHAÇA DEPOIS DAS 24 HORAS
– APÊLO –

Apelamos para os senhores proprietários de bares e estabelecimentos congêneres, para que suspendam, a partir das vinte e quatro horas, diàriamente, inclusive aos sábados, domingos e dias festivos, a venda de CACHAÇA nos referidos estabelecimentos.
Esta medida só trará benefícios ao vendedor e ao consumidor. Se por um lado reduz o lucro que adviria da venda de mais tantas garrafas de aguardente, por outro lado, previne casos graves de embriaguez com o risco de crimes ou desordens de que podem resultar prejuízos materiais superiores ao lucro de todo o dia ou de todo mês, sem possibilidade, na maioria das vêzes, de ressarcimento por parte dos responsáveis pelo dano, quase sempre indivíduos pobres, de nenhum recurso, convindo notar que tais desordens sempre ocorrem em horas avançadas, sem que a Polícia nada possa fazer, por já ter recolhido o seu patrulhamento.
Sendo a cachaça a bebida habitual dos nossos operários e pessoas de condição humilde, por ser a que mais está ao alcance de sua bôlsa, acaba essa medida por ter ainda um lado humano e patriótico, que é fazer com que os nossos trabalhadores procurem mais cedo as suas casas, evitando que, embriagados, terminem a noite na cadeia, com reflexos prejudiciais no rendimento do trabalho, no lar e na saúde.
Seremos grato aos que virem claro nossos objetivos.

Mantena, abril de 1956

obra-prima


barco

pleno, vago.

salada de frutas

Depois daquele beijo de uva, o dia do menino adolesceu diferente.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

prognóstico do Dr. Pedro Nóia

Preocupado, enviei imediatamente ao doutor, pelo mensageiro, cópia impressa desse emeio. Não tardou a me ligar, bastante interessado no caso:
- Melhor seria que a menina começasse a brincar com outros tipos de bolota!

emeio de amiga histérica

Ao constatar que venho gastando energia demais com pessoas - ou assuntos - desprezíveis, ocorreu-me a seguinte metáfora ruminessencial: tenho sido uma versão humana do Digitonthophagus Gazella, o Sísifo dos campos.
Diria Hilda Hilst: Não entendeu ? Informe-se.
Para ser menos antipática em minha estréia como colaboradora do blog alheio, vou esclarecer que se trata do famoso besouro rola-bosta. Ainda não entendeu ? Aqui vai uma singela explicação: rola-bosta é um besouro que recolhe excrementos dos grandes mamíferos e passa a vida rolando-os, no formato de bolas, pelos pastos como se fossem tesouros. Neles botam seus ovos e se reproduzem. Ao empurrar a bolota de bosta, eles chegam a ficar em pé: como a bolota é quase sempre maior do que eles mesmos, e muito mais pesada, é algo como se nós empurrássemos um elefante.
Alguém mais se reconheceu ?

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

atemporal

Esta nostalgia do que ainda não veio...

um marido ideal

Houve um tempo em que o mundo era sério. E então, segundo Oscar Wilde, os homens se defendiam mutuamente enquanto as mulheres se ofendiam umas às outras.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

ciscando na rede

De blog em blog a galinha enche o saco!

COMMENTS

Não imagina o prazer de saber-se lido.

piquenique adiado

Só no convescote. Será possível?

pretensão

É, o ralo tá destampado. Estará como o halo do poeta Manoel?

quase três

Esta chuva numa sexta. Eu aqui, você nem nunca mais.

anestesia

Que prazer o de estar quando não se deve.

engano

Seu silêncio assim trincando branquinho enche-me às avessas.

chamada a cobrar

Sua voz aguda e marrom corta-me o peito pior que infarto e cirurgia.

febre

Madruguei mandruvá ainda entrevado na lápide orvalhada de mármore azul rajado.
Penetrei entre frestras do muro lindeiro, ao ruído intermitente dos primeiros carros.
Outro acordado, vi seu parangolé todo de sacos pretos, ele mesmo o lixo na calçada.
A barba rala, o peito ralado no entreveio úmido da aurora. Eu fui ligeiro, não me viu.
Ele permaneceu dentro, de si e de mim, reverberando como aquela frase recolhida ali.
Sem consolação, rasgada por ela do muro como lagarta, no sereno de há pouco, noite.
Ela eu ele nós, irtemitência de nem sei que tipo, luminescente como a dos vagalumes.

virtual love

ele tinha a senha dela e ela na senha dele

da missiva

Dr. Pedro anda mais enrolado que fumo de corda. Nessa de se modernizar já fala até em procurar um psicanalista.

homo ludens

"Tudo o que não invento é falso."
[Manoel de Barros]

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

braille

foi servindo de guia que eu entendi o ditado:
"o pior cego é aquele que não quer enxergar".

anonimato

ao tempo em que serve pode deixar confuso

asco

Como pode este moleque bem nascido feder mais que um cão sem dono?

dicionário 2

lacraia lacrimeja?

(in) definição

o poeta é aquele que sabe vomitar hibiscos.

]da gaveta de guardados 7 (esta é velha)

[recordada de cabeça]
A DÚVIDA PERENE DO PLÁGIO

fumaça,
fumaça que passa...
imagem e semelhança,
isto é coisa que se faça?

tempo de hibernar

Eu invejo o musaranho-pigmeu que come o equivalente ao seu próprio peso por dia. E que na ausência de vermes mergulha em letargo profundo, em toca cavada no chão.

pois é

Apesar da bebedeira rolou na cama insone. A cabeça rodava na proporção de suas angústias. Finalmente pegou no sono. Teve pesadelos com uma gosma densa e disforme, teimando em escorrer pelos vãos dos dedos. Quando acordou havia ainda no chão do quarto um resto dessa substância. Correu à eletrola e foi logo retirando sua tampa, para dar espaço ao elepê de Ataulfo Alves.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

do outro lado do muro

Éramos movidos a refrigente de maça (Santa Cruz).

indisciplina

Já viu o derreter de um suspiro de boteco na latrina da escola?

górgona

O destino lhe fôra cruel: sentia-se uma medusa desde aquela rejeição inesperada. Bastava que olhasse para um homem e ele transmutava-se em pedra, que nem Michelângelo seria capaz de reavivar do silêncio.

medicina empregada

Deu agora de fazer acupuntura. Como lhe parece pouca a agulha tem usado pregos.

terapia do grito

Outrora eu dividia um escritório com uma amigo na Vila Madalena, vizinho de um empório terapêutico. Projeto em atraso, eu me aclimatava para a primeira varada de noite no local quando ouvi do outro lado do muro um coro desafinado de executivos pós-expediente:
- Eu não tenho medo! Eu não tenho medo! Eu não tenho medo!
Corri a abrir a janela, sussurando em grave:
- É porque você não me conhece...

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

vira-casaca: um paradoxo futebolístico

Quem nasce em Santa Cruz das Palmeiras, interior de São Paulo, é palmeirense desde criancinha. Daí a existência de uma porção de palmeirenses corinthianos por lá...

(da série poesia na rua, 7

noite/10.nov.06 - o garçom-filósofo do bar limoeiro, episódio narrado pela ana)

- Jô, você sabe o que é policarbonato?
- Olha Nilson, o que eu conheço de mais parecido com isso é o bicarbonato de sódio.

bicho-de-pé

Atravessavam a faixa de pedestres na hora do almoço. Eu sozinho, sem apetite, comera em praça de alimentação ruidosa. Um bife bourguignon do quilo, na lembrança distante de um picadinho à cocó servido a la carte. Voltava agora pro trabalho, reunião com o diretor, que sempre atrasa.
Ambos vinham descalços sobre o asfalto quente. Eu andava cabisbaixo quando deparei-me com as pontas sujas daqueles dedos encobertos por túnicas ao rés do chão. Ele trazia aquele corte de cabelo ridículo, ela a cabeça coberta pelo mesmo tecido grosso de lã marrom.
Pensei comigo que aqueles pés deviam ser parte do voto: o santo lá é o protetor dos animais.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

dicionário

arrogância, arrogar, arrogo, arroz-doce-de-pagode: sinônimo de peru-de-festa.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

assalto

Enquanto ela lia Matem-me por favor ele renascia por dentro. Quando ela acabou de ler, meteu-lhe o 38 na cabeça!

louvação

O poeta se matou depois de comemorar seu aniversário de 28 anos (em 9 de novembro de 1972); eu estava pra nascer. Foi Anônimo quem me lembrou, em comentário aí abaixo. Veja o sítio, que beleza! Salve o Piauí! (e também a revista, mas isso já é uma outra história)...


e com o ministro:

Vou fazer a louvação - louvação, louvação
Do que deve ser louvado - ser louvado, ser louvado
Meu povo, preste atenção - atenção, atenção
Repare se estou errado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado

E louvo, pra começar
Da vida o que é bem maior
Louvo a esperança da gente
Na vida, pra ser melhor
Quem espera sempre alcança
Três vezes salve a esperança!

Louvo quem espera sabendo
Que pra melhor esperar
Procede bem quem não pára
De sempre mais trabalhar
Que só espera sentado
Quem se acha conformado

Vou fazendo a louvação - louvação, louvação
Do que deve ser louvado - ser louvado, ser louvado
Quem 'tiver me escutando - atenção, atenção
Que me escute com cuidado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado


Louvo agora e louvo sempre
O que grande sempre é
Louvo a força do homem
E a beleza da mulher
Louvo a paz pra haver na terra
Louvo o amor que espanta a guerra

Louvo a amizade do amigo
Que comigo há de morrer
Louvo a vida merecida
De quem morre pra viver
Louvo a luta repetida
Da vida pra não morrer

Vou fazendo a louvação - louvação, louvação
Do que deve ser louvado - ser louvado, ser louvado
De todos peço atenção - atenção, atenção
Falo de peito lavado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado

Louvo a casa onde se mora
De junto da companheira
Louvo o jardim que se planta
Pra ver crescer a roseira
Louvo a canção que se canta
Pra chamar a primavera

Louvo quem canta e não canta
Porque não sabe cantar
Mas que cantará na certa
Quando enfim se apresentar
O dia certo e preciso
De toda a gente cantar

E assim fiz a louvação - louvação, louvação
Do que vi pra ser louvado - ser louvado, ser louvado
Se me ouviram com atenção - atenção, atenção
Saberão se estive errado
Louvando o que bem merece
Deixando o ruim de lado

náufrago

Navegava sem bússola, deu com o casco nas pedras.
Teve que seguir a nado, sem âncora nem nada.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

identidade

eu tenho achado tantos como eu
¿não será porque?
eu já não sei mais quem sou eu

gangorra

Depois das últimas Dona Fiúca sentia-se uma porca afundando no charco, tinha apetite suíno. Com o focinho lambuzado, grunhia asperezas que a brisa madrugadeira serenava.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

vaidade

Dr. Pedro Nóia foi assediado por duas belas pacientes. Saiu-se com esta:
- A classe dos unicórnios está entre a dos cavalos mancos e a dos gatos caolhos.

Dr. Pedro Nóia

Especialidades: explicações chinfrins para momentos cósmicos; doenças dos olhos e das mulheres.
Atende em domicílio.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

estou a ir

Lembrei-me do patrício a perguntar:
- Já lá esteves?!
E depois de estado a responder:
- Muito fresca, acreditas que pegou em meu pau assim?! (com o mindinho levantado).

autocad

este blog parece uma tela de autocad: fundo preto e layers coloridos...

pedra

Ficou pleno com a notícia da amiga de que seu filho se encantara com um levantamento de pedras no sítio, no feriado. Sentiu um frio na barriga ao memorar as surpresas da fauna de insetos escondida no quintal da vovó, lá no Taboão. Desejou uma mexeriquinha cravo daquelas...

terra

Aos dezoito anos sentia-se um verme, devorando Machado de Assis, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Álvares de Azevedo e Augusto dos Anjos. Quando lançado aquele filme, que até hoje não viu, chegou a planejar com os amigos o enterro dos discos do The Doors (revoltado com aquele tesouro ao alcance da massa).
Passados quinze anos, adulto metamorfoseado em jacaré, sente inveja daquela sua radical condição anterior, enquanto ruidoso, a caminho de um cinema, arrasta o barrigão no aslfalto, possivelmente influenciado por Santiago Nazarian, talvez ao som de Caetano Veloso.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Aspecto policial de Mantena (Zona contestada)

BARGANHA DE ESPÔSAS
– Denúncia –

Cópia Fiel:

“Sr. Delegado Especial do Município de Mantena.
Nos abaixo assinado, lavradores, Brazileiros, residentes no córrego do canivete deste município, Vem respeitosamente trazer ao Vosso Conhecimento que entre nos, existe dois Senhores de nome Raimundo Rodrigues e Avelino Rodrigues, que são casados eclesiasticamente, com Maria Leopoldina, e Jozifina Maria, e que em dias do mês corrente, mais ou menos dia 6, elles em como um acordo breganharam suas mulheres, sendo, que Avelino, voltou Cr$ 100,00 a Raimundo, e como se trata de um ato contra o senso moral, e para que estes individuos não dê mau exemplo ao nosso povo, pacato e bom, resolvemos trazer este fato ao Vosso Conhecimento, para tratar de acordo com o que a lei faculta. Afirmamos ainda que Maria Leopoldina tem quatro filhos com Raimundo, e Jozefina tem um filho com Avelino, assim sendo a breganha foi so das mulheres, os meninos ficaram em casa de seus pais e que antes das trocas das mulheres, sempre era de costume, fazerem bailes em suas casas, motivo ignoramos. O que é serto é que nosso Córrego esta um escandalo, com essa pouca vergonha de homens sem compustura, que querem emplantar mais ou menos a lei do comunismo em nossa terra. Nestes termos, pedimos Justiça. Mantena, 16 de Janeiro de 1945. (aa) Olimpio Borges, Arisson Pereira da Silva, Joaquim Pereira da Mata, Sebastião Baptista, João Francisco, Marinho Pereira, José Pereira. Arrogo de Raimundo Delfino, que não sabe assinar, Nadir Pereira da Silva. Arrogo de Orozimbo Silva, que não sabe ler nem escrever, Pedro Noia”.

CONFERE COM O ORIGINAL ARQUIVADO EM PASTA PRÓPRIA, NA DELEGACIA DE POLÍCIA DE MANTENA, SELADO COM CR$ 4,00 DE ESTAMPILHAS ESTADUAIS.
Mantena, 26 de maio de 1956.
(a.) José de Paula Freitas, escrivão da Delegacia.
Visto.
Mantena, 26 de maio de 1956.
(a.) José Geraldo Leite Barbosa, Cap. Del. Especial.

ignorância

Hoje, no campo de aviação, aterrisaram três cavalos paraquedistas.

incoerente

Eu mudo, detesto servir de referência.

chato

Eu não me interesso pelo intransigente que se leva a sério.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

elucubrações etílicas

semiótica é a ótica do pirata/ democracia é o governo do demônio/ a tolerância é inimiga da perfeição/etc.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

enquanto isso, no Pará

(grileiros preocupados, madereiros sem saber por onde, Jader Barbalho observando)

Grande festa popular: congregação inédita das aparelhagens Tupinambá e Rubi: dj Wesley, dj Pati Potência, dj Ednelson e dj Maluquinho juntos: a galera do quilombo fazendo o T, tecno-brega no talo, novo remix:

Ô Ana Juliaaaaa!!!!
Ô Ana Juliaaaaa!!!!
Ô Ana Juliaaaaa!!!!

(antenados: atentem para o fato de que os djs de lá estão remixando como o dj Tão Zé)

alieNação

Vivemos num país de áliens, em ação!

cheiro de chuva

No meio de um dia qualquer o olor, desobstruindo minhas vias memorialistas.

inútil

Reunião não serve pra nada.

desfile

Aquela sua bermuda esteve ontem na passarela.

terça-feira, 31 de outubro de 2006

entranhamento

há o que se entende, há o que se aceita, há o que se sente.

catalogação

Daquele amor antigo virei assintente: restou uma referência bibliográfica.

about me: sincronic/alter-idade

"Vivo estando, se deus permitir, passo nos mortos pra te dar um abraço de vida."
Ariovaldo Del Valle: in Bloganvile

Coincidências significativas me são caras. Já andei ruminando por exemplo, o valor pra mim, pelo tempo, dos encontros inesperados: verdadeiros encontros. E sempre que a vida aperta eis que surge alguém pra me socorrer, de onde menos espero. Tenho assim colecionado boas histórias de amor e aprendido a brindar ao fracasso. Gosto de estar só e de me saber junto, adoro queijo e detesto goiabada. Sei me reinventar e é sobretudo no outro que eu me reconheço e me acho em mim, múltiplo e uno, paradoxo.

mimo


no sítio da Dri o céu é mais azul...

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

alerta geral





[Leonardo Wen/Folha Imagem]

Soubemos dizer “Não à direita”, saibamos dizer “FHC nunca mais”, saibamos construir a “prioridade do social”, saibamos derrotar a direita em todos os planos, saibamos construir um Brasil justo, solidário, democrático e humanista. Para voltarmos a comemorar daqui a quatro anos, sem travos amargos, sem desconfiança, com o coração e a mente orgulhosos do país que soubemos construir.
Emir Sader

felicidade

A felicidade é um bom naco de queijo gouda maturado.

voto tático

"Arquiteto sem perspectiva procura ponto de fuga", citando o professor Flávio Motta

Artigo de Francisco de Oliveira

domingo, 29 de outubro de 2006

hipocrisia

Há quem fique feliz, apesar da derrota, por ter se esforçado o quanto pôde.

dúvida

Eu continuo a não acreditar em quem usa a camiseta pra dentro da calça...

eleição

Domingo sem festa cívica, que triste! Há quatro anos eu me lembro chorando (de alegria) ao lado da família, em pleno Vale do Aço, onde Lula teve a maior votação proporcional do país.
Agora só nos resta cobrar um governo popular, de fato.

sábado, 28 de outubro de 2006

truque

Não quero ser classificado. Quero estar no limbo do que não se sabe ao certo o que é: eis a condição contemporânea.

comunique-se

ou viva na clandestinidade: não pague imposto nesta cidade ilegal.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

baralho

Para Eudóxia a vida é mesmo assim, de ás a rei: copas, paus, ouros e espadas. Mas a coisa só fica completa mesmo tendo desejo e desígnio como coringas.

desassosego

No olho do furacão avista um futuro que promete.

porvir

A trombada com querência, minha nova musa!

verbo

Vocábulos bonitos quiçá encantem mais que belas fêmeas.
A palavra cantada por uma linda mulher, dessa não há dúvida.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

repente

D improviso
D repente
D nada

T

todos na aparelhagem da rain forest.
cabeças desaparelhadas, lindas.
cuias e jóias e gentes (no igarapé).

ping pong

gêmeas tailandesas que fatiam banana!

navalha na carne

se-ios, pontudos.

arte e tecnologia

Barbie do Inferno!

Terá sido ali, ele cooptado ou eu seduzido?

café floresta

O resto não presta!

Salve Adelino, Seu Zé e Toninho.
Obrigado meninas, pela xícara de cada dia.

limoeiro

Aniversário de um canalha, churrasco na calçada.

Acabo de descobrir no Severino: tucana bebe gatorade enquanto bebemos cerveja (vai com muita sede ao pote, e de véspera). Brindemos ao ex-futuro presidente do Brasil, que só nos resta esquecer! Quatro anos em mais de quatrocentos (eu estou do lado do povo, e aqui sempre estarei).

tabuleiro

Era um simples peão, perdido num jogo de damas.

designer

Ela recortava homenzinhos de papel como ninguém: de suas mãos habilidosas eles saíam em grupo, unidos pelos braços, enchendo toda a sala, querendo marchar para uma volta ao mundo.

paradeiro

vez ou outra perguntavam-lhe dela
e ele sofria sempre na lembrança
daquele cheiro úmido e inebriante

que inundava seu quarto de dormir

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

carimbo

EU NÃO ACREDITO
nem o dj tão zé... campanha:
revolte-se também com o hedonismo juvenil!

lava

aquele miocárdio dança quando as
palavras certas são cozidas em vapor e
despertam agridoces na boca, alheias,
movendo o rugido grave à tona:
o oco, de profundezas...

um em muitos

Down for maintenance... Mas como é que esses americanos descobriram? É la no sertão de Minas, onde pedras brotam e pessoas habitam, depois de Valadares: de onde aliás vieram os donos do boteco paulistano que serve os grãos do boi, em versões à milanesa e alho e óleo, além daquela clássica desejada pela amiga.
Meu primeiro ponto de parada após o espanto premeditado, com direito a amigo confidente, cerveja gelada, churrasco com queijo (refeição também primeira), garçom com caganeira e cliente bem mais louco que todos nós juntos, alcóol exalando em cada poro, em busca de uma universitária que ele julga só dele.

apetite, reloaded

Andava agora tão raivosa, afim de presentear aquela outra com um par de testículos, cozidos e fatiados em lâminas. Ela mesma mandaria castrar o boi, ela mesma prepararia o prato exótico, entregue sem alarde numa choupana do Embu.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

antigas charadas

"quatro pés em cima de quatro pés esperando quatro pés. quatro pés não veio, quatro pés foi embora, quatro pés ficou".
"se vai-e-vem fosse e viesse vai-e-vem ia, mas como vai-e-vem vai e não vem vai-e-vem não vai".

sentidos da infância

de dia capturava cigarras,
à noite molestava vagalumes.

(da série poesia na mídia, 1

22:25/23.out.06 - picolé de chuchu apresentando-se no debate da record)

eu quero agradecer... agradecer... agradecer...
... e às crianças, pela sua alegria!

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

da ilusão

Foi sublime por um dia. Sublimou!

(da série poesia na rua, 6

manhã/22.out.06 - casal de velhinhos de Guaranésia sobre acidente da Gol)

ele: era cento e cinquenta, parece que inda falta um.
ela: deve de se o nenenzim, tão pequeno!
ele: nenenzim num conta. Tá faltano é um ser humano!

com açúcar, com afeto

Gente que importa acha o blog bem bizarro, diz o emeio. A um só tempo estranho e garboso, suponho, e sorrio por dentro. A resposta não sai de jeito algum, censurada pela tarja vermelha, Carregando... Enviando... Pra onde rapaz, qual o quê?

domingo, 22 de outubro de 2006

tatuagem

Desejaria o alçar do vôo da borboleta coccigeana.

passageira

Só pensava agora em ter uma serra elétrica pra aniquilar com aquela plataforma de madeira e desnudar o debaixo da bota de couro. Aí então ele tiraria suavemente a meia fina para levar ao nariz, beijaria aquela sola rosada e roubaria a alma da guria pelo dedão do pé, num só chupão, sem desviar os olhos de seu alvo baixo ventre.
E quando só corpo restasse em seus braços, qual um colecionador de ossos, ele devoraria a carne de cada um dos longilíneos dedos daquelas mãos minuciosamente observadas.

sábado, 21 de outubro de 2006

pastosa

Tinha pouca idade quando foi surpreendido no berço, em casa da avó. Movimento ritmado, pintara grandes nuvens na parede. Tampouco poupou o mosquiteiro, agora salpicado da matéria. Gostou mesmo foi do sabor acre daquela tinta marrom. Comeu um bom bocado de merda.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

chamada ao telefone

a conversa nesse sanatório geral é cada vez mais aguda e um vive respondendo o outro sem nem ainda ter lido a resposta daquele outro que ainda não leu o um e quando vê a prosa cáotica aparece recheada de poesia, tal qual um rocambole panco que pegou o gosto do berço de plástico do novo fornecedor e o melhor de tudo é que reclamando você ganha uma cesta de produtos só pra você e um cartão de natal durante anos.

despedida

Rasgou as páginas do caderno uma a uma e lá de cima as entregou ao sabor do vento.
Umas voaram longe, atravessando o vale a perder de vista...
Outras cambalearam, úmidas de água e sal.

música incidental: "papagaio discute com jandaia/ se o homem foi feito pra voar..."

de volta

sem o peso das pedras na mochila.

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

]da gaveta de guardados 6 (200?)

O HOMEM PARTIDO AO MEIO

Vinha extenuado, tinha fumado um baseado com os colegas do novo trampo e a larica batia forte. Parou no boteco de costume: uma coxinha, uma latinha, um cafezinho de coador (que o de máquina era intragável).
No bar os fregueses de sempre, o velho espanhol que vez ou outra aparecia, gente fina, gostava de filosofar com ele: vida interior, solicitações externas, a grana sempre curta. Uns papos cabeças de feng-shui, o caminho do coração, maneiro.
Despediram-se, era tarde, resolver tomar um busão. No ônibus não conseguia evitar o guri ao lado da porta traseira, duvidava agora de sua própria masculinidade; não, o cara tinha cara de mulher, brinco de argola na orelha, era por isso...
A viagem foi rápida, em pouco tempo estava puxando a cordinha, tentava disfarçar o incômodo e o sinal acendia mais laranja do que nunca.
Ansioso saltou do ônibus ainda em movimento e partiu-se na quina do poste azul do ponto, tingindo a noite de vermelho.

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

padroeira

...Aparecida, cantada pelo pinguço florista...

refuge

"com tantas opções de lazer, você não vai ver o tempo passar":
spa com ofurô e saunas/ piscina com deck molhado e solarium/ fitness center/ business center/ lounge com bar e estar externo/ central de delivery/ pista de skate/ ice pool/ praça zen/ service facilities/ gourmet dancing com isolamento acústico/ streetball/ spiriball/ lan house/ lounge com snack bar/ relax day spa/ gazebo gourmet/ espaço gourmet/ espaço zen/ my party/ garage band/ lounge com lareira/ piscina de biriball/ porte cochère/ rock center/ child care/ petcare/ beauty care/ car wash/ varanda gourmet/ pet place/ putting green/ home theater/ office space/ cultural pack/ bricolage area/ body center/ hall social/ lobby decorado/ playground.
apartamentos one floor e double floor, cobertura top house.
fuck you! (em seu quarto, deitado num colchão honey moon com pillow top)...

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

(da série poesia na rua, 5

20:00/11.out.06 - capiau no limoeiro sobre o amigo comum pra isa)

não porque a caixa metálica dele
é apaixonada
não, cefálica
em torno de um ano...

... que eu morava...

bom boteco

"meu limão, meu limoeiro"...
(coro bêbado de cegos em caravana)
garção, mais uma!
e troca os copos pra gente?

cão amestrado em conflito

há tensão,
atenção!
(na de acabar falta pouco)
da próxima semana não passa...
currículo late: auuuuu!
mordido por cobra, com medo de lingüiça.

a pedido

agora um lindo pássaro gorjeia aqui no sítio...

terça-feira, 10 de outubro de 2006

(da série poesia na rua, 4

20:20/10.out.06 - webdesigner com cliente cafetina na internet Copan)

é legal colocar a naturalidade: tipo assim é gaúcha!

acompanhante

acabo de ver uma cachorra abraçando uma cadela.

em toda parte

será que os jacarés irão comer os bois?

a velha mogiana

Mococa, Arceburgo, Guaranésia, Guaxupé... Era a velha Mogiana que no caminho contrário nos trazia até a Luz. Dormentes recolhidos, pouco ou nada restou, nem a estação do comendador meu parente, nem o velho apito do trem que ladeava Bloganvile. E agora daqui pra lá só resta ao pobre como eu o inqualificável serviço da empresa de ônibus, com monopólio do trajeto. E pros ricos pagar uns sessenta mangos de pedágio pros tucanos. Sim, a estrada é muito boa, trata-se de uma questão de alternativa de rota pra algum fusca a gás desavisado...

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

xipófagos

Sim, compartilho da opinião de Francisco de Oliveira a respeito dos atuais PT e PSDB, irmãos siameses. Não me furto porém, dadas as circunstâncias, a realizar uma intervenção cirúrgica de alto risco: oPTei por salvar aquele que me parece com alguma possibilidade de sobrevida depois de uma boa incubadora, a suposta banda menos podre da maça. Pagarei quiçá, caro por isso.

apetite 2

No fundo no fundo minha amiga desejaria era uma comida árabe: pepino na coalhada de entrada e depois um quibe bem quentinho, entregues em domicílio.

apetite

Enquanto se esbaldava numa arraia empanada com camarão, ele promovia um peeling profundo no seu frango a milanesa. Ela pensando: também não deve gostar de ostra... Não posso confiar em homem que não goste de coisas moles e salgadas!

segundo turno, 13 confirma

O que está em jogo no segundo turno então é se teremos um país menos injusto ou mais injusto, se teremos um país mais soberano ou mais subordinado, se teremos um país mais democrático ou menos democrático, se teremos um país ou se nos tornaremos definitivamente em um mercado especulativo e nos consolidaremos como um país conservador dirigido pelas elites oligárquicas (como um mistura de Daslu mais Opus Dei). Se seremos um país, uma sociedade, uma nação – democrático e soberanos - ou se seremos reduzidos a uma bolsa de valores, a um shopping center cercado de miséria por todos os lados.
Tudo isto está em jogo no segundo turno. Diante disso ninguém pode ser neutro, ninguém pode ser eqüidistante, ninguém pode ser indiferente.
[Emir Sader]

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=55#comment-anchor

dilema de Jacó

se tudo se reduz à unidade...
então tudo é uma questão de escala!

(e quanto maior a escada, maior o tombo)

domingo, 8 de outubro de 2006

bóia

há quem alimente jacarés no quintal de casa

]da gaveta de guardados 5 (200?)

LADRIDOS E LADRILHOS

Foi longo o período de gestação do escrito seguinte. Hoje o tempo urge para que a memória não se apague. O ensaio era quase diário, no fundo sabia que só a morte traria-me ao papel. Não a morte da casa e sim a do velho cão, única quase-vida ali presente.
Raramente ouvia-se um ladrido rouco, desanimado, raramente caminhava; desconfiava-o cego, de faro apurado mesmo que gasto (um dia olhava com o focinho para uma dupla curiosa nos balaústres).
De seu posto de comando (o velho alpendre) sentiu a demolição de meio quarteirão à sua frente, feita na surdina, pelas entranhas, e na janela do outro lado da rua não via o céu que aparecia bonito pelo vão e o equilibrista operário de marreta na mão.
Cheirava mal, cheiro de cachorro molhado, e era já velho, meio desdentado. Despertava compaixão que vez ou outra aparecia em forma oriental, meio rabugenta: uma japonesa vinda de não sei onde (pois que a casa achava desabitada, sem ter a certeza disso).
Hoje ia passando desatencioso pelo local se não fosse um casal cuja menina de olhar melindrado reclamava: era ali que ele ficava... Não havia mais papelão ou madeira, não havia mais o cão. Os gastos ladridos dando lugar aos novos ladrilhos... Sim porque o piso em quadriculado alvi-rubro brilhava contrastando com as velhas paredes desbotadas do alpendre.
Aturdido continuei a caminho da padaria, celular tocou, conversa de amigo, o suco e o café de sempre e na volta ia passando desatencioso quando uma bela morena atravessava a rua e meu olhar voltou-se para a esquina já dobrada. Não vi mais a mulher, só enxergava agora o alpendre primaveril, brilhando.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

da vida russa, montanhas

.....ALTOS........ALTOS.......ALTOS.....ALTOS.......ALTOS
...e.....e..........e.......e.......e.......e.......e.......e.........e.......e.........e...
...........baixos....... baixos......... baixos...... baixos............baixos

arcano 16

reconhece a queda e não desanima
levanta, sacode a poeira
e dá a volta por cima
[paulo vanzolini, na voz de noite ilustrada]

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

a caminho de Tróia

As casas de suco por aqui não são como as de lá, mas ao menos não fecham! Hoje mesmo tomei seguidinho, com o intervalo de duas livrarias, um abacaxi com hortelã na Banana Split e um morango com leite, leite condensado e aveia no Café Galicia.
Tristeza profunda: Triângulo (mantida sem reposição do estoque em metade do antigo espaço pelos funcionários); Duas Cidades (o Márcio disse que venderam tuda a dez real naquele sábado próximo e bem passado); Quinta Avenida (aluga-se, com faixa e sem despedida); e hoje o novo susto, queima de quase tudo na Belas Artes (10, 20, 30, 50%, dia fatal dia quinze). Clarice Lispector, Sthefen Jay Gould, Carl Gustav Jung - tão pouco no bolso, além do cartão é claro...
E eu ainda falara no almoço da Argumento e da Travessa em contraposição à Cultura e a da Vila.
"O Rio de Janeiro continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo"...

(da série poesia na rua, 3

manhã/05.out.06 - sobrinhos da rua 25 de março, por Adriane Bertini)

num compra que é difícil...
ai ai titia!

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

da ironia, ou sobre o poeta

ser arquiteto como a criança que derruba seu reino de um só golpe

ai ai titia!

No café da tarde, enquanto comentava de minha admiração por Tati Quebra-barraco, lembrei-me do Xotaxé, grupo por mim fundado na virada do milênio junto com o gato Félix. Tinha Jacaré japonês, uma loira e uma morena. Nosso maior sucesso era o "Melô da fome", a razão deu ser um mano, arrasando o ser humano, arrastando...
Agora é a hora e a vez de Horácio e seus bambas fedorentos, com som crossover suingado de influências pop-anarquistas inspirado em brincadeiras de infância. A gente mete a colher de pau, que não sai o t-fal! Ritmo marcado por sons urbanos de apitos narrados por cearenses que eu mesmo ainda não ouvi mas encomendei para dois de meus parceiros musicais, amanhã na 25.
Breve em formato poema, da série Poesia na rua, puro "transponder"...

terça-feira, 3 de outubro de 2006

que poeira leve

Antes de tudo acabar ou no meio daquilo que eu não sabia bem o que era eu procurava um livro de Caio Fernando Abreu. Já pensava no passado, naquele amor urbano de antes, no empréstimo do Ovelhas Negras herdado de um terceiro amor, que fora só dela, daquela minha namorada. Um conhecido lançava um livro naquele dia. Pouco antes dela bater no vidro da loja houve um encontro inesperado com aquele colega de trabalho, testemunha de nossa história. Tristeza e a melancolia: já não havia mais razão para a dúvida. Foi nosso último passeio pela cidade e eu nunca imaginara que uma sessão de cinema pudesse ser tão constrangedora ao lado da mulher amada.
Mais tarde, num blog, é que encontrei este depoimento daquele autor:
“gosto de pessoas doces, gosto de situações claras - e por tudo isso ando cada vez mais só”.

(para conocermos mejor) Colômbia, 2

RECREO
Rafael del Castillo Matamoros
El olor de los libros de los niños
de los libros que se guardan en um pupitre
entre cáscaras de naranja y lápices quebrados
ha vuelo a mí
y ha revoloteado sobre mi mesa de trabajo
como um avión de papel que planease en el aula
en la infancia
como una travesura...

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

plano feminino de terapia heterodoxa

olhar bem de frente, cuspir certeiro, esperar a bofetada, sentir-se viva

efêmero, relativo





"Ter a esperança de deixar uma lembrança no coração de uma mulher é desejar imprimir a marca de um carimbo numa água corrente".
Anatole France, desenho de Adriane Bertini

sábado, 30 de setembro de 2006

melancolia de outro sábado

Mesa de restaurante no centro. O velho humorista agora usa tablete Santo Antônio. A puta que o acompanha faz pose. Seu irmão saca do celular e registra tudo, no intervalo da mijada alheia. Em seguida o dj liga para confirmar o evento de entrega das chaves de um imóvel no interior. E o garçom avisa ser o novo mais velho da casa (trinta e três anos). Morreu aquele que nos serviu da última vez? - a gordinha saliente.
Um pouco antes o agito na velha livraria, da proprietária mais nova: ele só trabalha agora com sei lá o que. Procuro na internet? Vamos vender os móveis...
Volto para casa penso, sentindo o peso de uma decadência que nem a reforma da fachada do antigo hotel pode aliviar.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

côvado

com que metro se poderá medir a distância segura das virilhas alheias?

a benção

Apesar de minha adaptabilidade ao meio tenho índole caipira. Aprendi com meu pai a admirar bois nos pastos, que ladeavam as longas estradas das viagens da infância.
Outro dia ele mostrou-me as mãos raladas, distraído tropeçou num cupim.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

eterno, absoluto




"Fosse eu a natureza não teria feito os homens e as mulheres semelhantes a símios grandes, como acontece, mas tomaria como modelo os insetos que, após uma vida de lagartas, transformam-se em borboletas e durante o breve espaço final de suas vidas não têm outro pensamento a não ser amar e encantar. Colocaria a mocidade no fim da existência humana... Então eu teria disposto as coisas de modo a que o homem e a mulher, desdobrando rutilantes asas, vivessem por algum tempo de orvalho e desejo e morressem num beijo inebriante".

Anatole France, desenho de Mariana Zanetti

(da série poesia na rua, 2

horário comercial, dia qualquer - anunciantes da rua são bento)

ó-
ti
caó-
ti-
caótica
ótica...

(para conocermos mejor) Colômbia, 1

calçada - coisa boa, dois reais cada, pra renovar a estante, livro tem que circular.
escolha - estes três, dez reais, três reais, pegue mais um e veio:

Antologia poética Brasil-Colômbia: para conocermos mejor. GONÇALVES, A. J.; ROCA, J. M. (Org.). São Paulo: Ed. UNESP/ Santa Fé de Bogotá: Aseuc, 1996.

INVASIÓN DE LA MEMORIA
Joaquín Mattos Omar

¿Evaluar a cada tanto lo vivido
cada último trozo de pasado?
¿O dedicar el alma siempre
y únicamente a proyectar lo que vendrá
a soñar lo por venir?
¿Entregarse al diario íntimo
que al detal registra lo ocurrido
o estar todo el tiempo expectante
de lo que va a ocurrir?
¿La persitencia da la memoria
o la promessa de las experiencias inéditas que
acechan?

Sabemos que lo que fue
surte más pesares que dichas,
más zozobras que afianzamientos.
Pero el pasado, su contenido irrevocable,
nos invade cada vez más
va creciendo como una manigua
en medio de nuestra respiración
sumando una a una sus hojas
- mera basura anecdótica -
con el vértigo con que se suma en los bancos el papel
moneda

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

(da série poesia na rua

19:54/27.set.06 - meninos de rua se deitando na praça da república)

se educa aí, se educa aí!
cê nunca ouviu falar em tupi.
cê nunca ouviu falar...

são cosme e damião














Falange do erê
Arlindo Cruz - Jorge Carioca - Aluísio Machado

Só quem acredita vê
Que essa vida é um doce
Mesmo se não fosse
Eu seria assim
Sou menino brincalhão
Encontrei a chance
Bem ao meu alcance
E a agarrei pra mim

(Eu dou)

Viva Cosme e Damião, doum (doum)
Viva Cosme e Damião
Viva Cosme e Damião

O que importa é que a gente miúda
Me trouxe ajuda, quando eu precisei
E o que prego nas minhas andanças
Que só as crianças me ditam a lei

E assim me sinto protegido
Ungido com a viscosidade da fé
Sua benção é presença imensa
Que vença com a crença que tem seu axé

(Eu dou)

Viva Cosme e Damião, doum (doum)...

Da vida tão amargurada
Essa gurizada me fez renascer
Hoje sou cobra criada
Salve a ibejada falange do erê

Vinte e sete de setembro
Eu sempre me lembro, não esqueço de dar
Cocada, paçoca, suspiro, pipoca
Bola, bala, bola, cuscuz e manjar

(Eu dou)

Viva Cosme e Damião, doum (doum)...

arrendamento

Uma semana, um mês, alguns dias, a primeira quinzena: definitivamente o tempo não é linear...
Estas paragens aqui foram arrendadas de Ariovaldo, descendente de família de latifundiários mexicanos que em meados do século passado começaram a comercializar bebidas frutais. Era um antigo sítio herdado dos pais, que aportaram no Brasil com ele criança, depois que o avô materno vendeu a empresa e as terras próximas ao lago Texcoco para os Albarran, em 1978. A queda constante do preço da arroba bovina no mercado o fez desistir do confinamento, mudou-se para a cidade, onde acabou sendo eleito prefeito.

Conheço Ariovaldo desde sua chegada ao país e nossa amizade tem desafiado o tempo. Reencontramo-nos recentemente, após um quadriênio, através de um amigo comum, havia muito também não visto. Ele contou-me sua história recente e dos desafios de ser alcaide; bem como do abandono do sítio, no qual passáramos momentos felizes de nossa infância. Contei-lhe também de minha recente separação conjugal e da intenção de viver na roça novamente, apesar de minha alergia ao mato.
Resultado: aluguei este sítio onde hoje pasta minha memória.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

comer mingau

Irene

[Manuel Bandeira]


Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor

Imagino Irene entrando no céu:
- Com licença, meu branco.
E São Pedro, bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

[Caetano Veloso]

Eu quero ir minha gente
Eu não sou daqui
Eu não tenho nada
Quero ver Irene rir
Quero ver Irene dar sua risada

Irene ri, Irene ri, Irene
Irene ri, Irene ri, Irene
Quero ver Irene dar sua risada

sair ao sol

Lembro-me daquele conselho do amor distante, amiga sempre tão próxima: é necessário fechar uma porta para outra abrir. Não será diferente agora, já não foi.
Acordei com a cabeça em carrossel, cavalos em círculo e brilhos múltiplos. Zorro zonzo ou Tonto.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

]da gaveta de guardados 4 (200?)

MEMÓRIA

e quando o meio meio que conspira
e a poesia nos espera em velha casa
(à espera dos bárbaros) os gregos
iris crepuscular ou tardo brilho e não desfecho
cofre tranca talco em dólar prata referido
ou ágora, agora encontro em agonia
de pássaros, de petardos, de pessoas
ao som do pequeno atabaque

a porta que bate, o homem que assovia

Enquanto pensava na sorte do dia, lembrei-me dos sórdidos aposentos de um médico do interior, diretor de um hospital, desses que fazem questão de ser chamados de doutor. Na instituição, para chegar até a sua private room era necessário passar por algumas secretárias desconfiadas e alguns corredores. Uma vez lá, mesa de reunião ao centro, o distraído, mesmo que atento, não sabia mais o caminho de volta. E da sala octogonal ou sextavada (já se vão tantos anos) portas em cada uma das direções: a de entrada, outra da provável saída exclusiva, outras tantas acessando outras private rooms, já nem tão públicas. Uma mini-academia vislumbrada pelo vão de porta entreaberta, o espelho no teto imaginado em outra sala qualquer.
Isso tudo pra dizer que hoje ouvi uma porta bater no labirinto em que me encontro e saí assoviando, sem saber bem de qual delas se tratava.

domingo, 24 de setembro de 2006

]da gaveta de guardados 3 (2002)

GENÉTICO

de meu avô:
- a criptografia popular
que mantenho como código
- a simpatia do mascate
que mantenho como código
- o gosto pelo riso
que mantenho como código
- a carne de porco
que mantenho como código

de minha avó:
- o código de ética!

qualquer

As canções do novo álbum de Arnaldo Antunes tocam, assim como foi emocionante o show de bolso da semana que passou, mesmo sem a presença do Scandurra, o danado que musicou o Copan.
Preso ao trânsito do fim da tarde num ônibus, aterrisei na livraria com lotação total e trombei, por sorte, com amiga querida (eu cada vez mais convencido do valor do imponderável no encontro).
Café, que senha já não nos restava, conversas em dia, ela se foi e eu retornei já da calçada pra dar uma espiada. Atraso, e não é que ainda vi quase tudo, uma beleza, expressão simples do elaborado: "atenção para escutar o que você quer saber de verdade".

sábado, 23 de setembro de 2006

Atrás dos olhos das meninas sérias

Mas poderei dizer-vos que elas ousam? Ou vão,
por injunções muito mais sérias, lustrar pecados
que jamais repousam?


Ana Cristina Cesar, A teus pés

primavera

No macrocosmos tudo desabrocha e até ocorre um encontro significativo: sinal cuidadoso, floral. No micro só confusão com mais um quê indiano de outro algo já escrito, devassa. E sigo me aprumando, fruto maduro e aí viro suco. Foi tanta a simpatia no pedido que a simpática criatura ao meu lado, tão próxima! O mundo ainda vale a pena se a/há alma... E do resto do inverno ainda resiste a rosa alva no jarro de cristal, nenhum botão vermelho se abriu e aquele mesmo caiu no derradeiro quase primeiro dia. Queimados todos os seis, postos a secar noutro vaso, de vidro suando, cheirando a morte.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

odeio

cê, caetano veloso


veio um golfinho do meio do mar roxo
veio sorrindo pra mim
hoje o sol veio vermelho como um rosto
vênus diamante-jasmim
veio enfim o emeio de alguém

veio a maior cornucópia de mulheres
todas mucosas pra mim
o mar se abriu pelo meio dos prazeres
dunas de ouro e marfim
foi assim, é assim, mas assim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio

veio um garoto do arraial do cabo
belo como um serafim
forte e feliz feito deus, feito um diabo
veio dizendo que sim
só eu, velho, sou feio e ninguém

veio e não veio quem eu desejaria
se dependesse de mim
são paulo em cheio nas luzes da bahia
tudo de bom e ruim
era o fim, é o fim, mas o fim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio

]da gaveta de guardados 2 (2002?)

ROMANCE INTERROMPIDO
"O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Não tomo banho. Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu."
Caio Fernando Abreu: Anotações sobre um amor urbano
Introdução
Procurava uma pena que desse cheiro na letra, capaz de vazar um pouco o encantamento que prendia-me no interior do espelho. Estado de vigília em rito de passagem, memória falha de momentos infantis.
Ela sempre indiferente ao cerco. Insatisfeita com seu corpo não se olhava nem tocava-se.
I
Saco do cesto alva camiseta molhada de suor e uma calcinha dura de sabonete. Penduradas no registro outras duas calcinhas respingam o banho de há pouco. Um raio de sol rasga-me o joelho esquerdo. A casa cheira café em manhã de noite mal dormida.
II
Atrás da porta do quarto imagino-a nua em frente ao espelho. Não me responde. No lixo do banheiro embalagens de camisinha, um frasco vencido de remédio e o sangue espalhado em trouxinhas de papel higiênico.
III
E havia um barulho turvo em seus olhos que não pude deixar de notar. Uma inaptidão aos afazeres domésticos causada pela inflamação na omoplata. Pratos empilhados pia afora e uma fina camada de pó negro sobre os livros da sala.
IV
Três dias sem notícia, toca o telefone. Podíamos ir ao cinema, filme francês que você vai amar. É que estou atrapalhado (...) a que horas mesmo? Táxi! E ela nem apareceu.
V
Era cedo, eu aparecendo de surpresa: pés no chão, roupa de dormir: calça de algodão revelando contornos e uma blusinha listrada deixando aparecer longo caminho desde o umbigo.
VI
Entre os vãos dos botões da camisa eu busco um ângulo de visão para aquela auréola atrevida. Neste instante o mundo todo é um grande seio como no Amante Minguante do Almodóvar.
VII
A primeira grande surpresa foi vê-la de biquini branco em dia de sol. Guardarei pra sempre este entumecimento imediato de olhos em ziguezague.
VIII
Outro dia na cachoeira resolveu ficar pelada. Sentiu-se livre, a massagem da água deixou-a molhadinha. Foi surpeendida por uma borboleta amarela.
IX
Entre o coque e o cóccix uma cicatriz na baixa clavícula chamava-me. As alças de silicone do sutiã desnecessário eram incapazes de ocultá-la nos cruzamentos cotidianos.
X
Nem sei quanto tempo entre um cochilo e outro. O que era um minutinho fez-me atrasado outra vez. Interrompi a música e saí batendo a porta da sala.
XI
Foi mostrar-me a barriga já não mais tão bela. Deixou-me ver a dobra de início do seio direito enquanto a calcinha pulava pra fora da calça.
XII
Ouço agora já noite a música matinal do balé. Nossos corpos juntos numa rede que balança. Sinto seu cheiro, estou feliz.
XIII
Surpreendeu-me num salto infantil de abraço gostoso enquanto o sol brilhava iluminando-lhe a face sorridente de quem recorda um beijo desnecesário.
XIV
Em sua inquietude toco-lhe o seio esquerdo com a orelha direita, como quem procura por baixo dos panos o sinal vital do coração, batidas ritmadas.
XV
Observava-lhe as pernas, depilação por fazer. Pêlos próximos duplicados, linhas de força por muitos lados. Incomodava-lhe sobretudo aqueles do tornozelo que eu tinha vontade de arrancar nos dentes.