segunda-feira, 26 de março de 2007

quase lá

Eu já desenho o futuro. Conforme, ele também me pareceu lindo.

thelema

"Love is the law, love under will"
.
Da lei, na alquimia não se distingue o bem do mal.

final

A última cartada, ás na dama.

recorde

Quantos nós ao vento? Noventa.

genética-mente?

Com olhos de ver e ouvidos de ouvir. Fi-lo. Já com agá.

A13

Uma só centopéia alada não faz outono.

repeat please

play, 6 play, forward 12 play, rewind 6 play... and more.

pós-violência

Soque, já morreu lá trás. Quero gritar para todos.

dentro do espelho

pastilha azul
pássaro morto
alma arruela
monstro gaviola
princesa macaca
brigadeiro pisado
lua sorriso
.
(com uma tristeza do outro lado)

sábado, 24 de março de 2007

sobreviventes

noturna
camisa de botão: o pum que deu certo chuta garrafa pet
umas duas]

matutina
fenômeno: um menino que come feno, um ruminante
quase onze]

(há quem nunca tenha visto um poeta)

sexta-feira, 23 de março de 2007

diálogo

mó: em memória ria, mero amor mora
deusa: da saudade, seda, saúde e sade

ultrapassagem

Despassarado será aquele que passou além de, tal qual ave errante migrando. Cabeça fraca porque voa transpondo ovos, despassarinhando?

depois do sonho

O extrato debatia-se áspero nos blocos de concreto. Meu olhar, que o seguia, foi dar num homem moldado em árvore, esperando na sombra um desfecho. Nenhuma apoteóse: aquele seu cheiro é que me tirou do estado.

quinta-feira, 22 de março de 2007

A12

Corda pra suicida é forca.

claridade

Aquele bolo de nozes não seria nunca suficiente. Lúcida e coquete, caminha sem auxílio e lenta segue. Não entende o porquê da mulher nova, aquela que quer ser presidente; eu assinto, na discordância do novo homem, aquele que quer um creme anti-rugas. Mora lá, cá, acolá. Está soberana em todos os lugares há exatos noventa e oito anos. Tia Clara tosse.

A11

Noves fora, aforismo.

A10

De menos: economia de meios.

A9

Quando a cabeça perturba a poesia tangencia.

A8

O fiado está sempre por um fio.

A7

Nem todo ar comprimido é bolha.

A6

Em garrafa cheia não entra ar.

A5

Quem lê mão não sabe que horas são.

A4

A quatro só em mãos.

A3

Conselho só é bom se dá coceira.

dentro e fora

Enquanto penso no teclado, nem ligo pra barata aqui na mesa. Ela alucina em suas antenas, sem rumo, beija minha mão.

segunda-feira, 19 de março de 2007

pele bovina

no berne extirpado
o óleo queimado

realidade

Depois que eu voltei da caça, preparou-me um coelho com polenta cremosa. Estava delicioso. Mantivemos a lareira acesa por toda a noite e nos entregamos à lascívia regada ao bom vinho. O céu era repleto de estrelas até que a alvorada rompeu de um laranja ofuscando. Fomos para o quarto, fechamos as persianas e dormimos enquanto.

domingo, 18 de março de 2007

quarta-feira, 14 de março de 2007

terça-feira, 13 de março de 2007

madureza

E quando chegar o tempo da colheita, desceremos ao jardim logo cedo. À sombra do caramanchão, cuidado e tesoura, podaremos cada cacho. Já imagino teus pés na pisa e as canções no ritmo do trabalho. Beberemos do vinho toda noite.

semente do amanhã

Por mim, só peço que não desanime: será melhor saber que tudo isso foi motivo de uma mudança essencial. Então, um dia, poderemos olhar um nos olhos do outro e sorrir, na cumplicidade da memória. Até lá cultive o outro, não o mesmo. Morra de susto, nunca de tédio.

ternura matinal

Foi um afeto brando desperto no peito: o pequeno francês e sua mãe, meus vizinhos, na calçada dos arredores de casa. Ele alvo, frágil e de pernas roliças pedalava sozinho sua mini-bicicleta (já sem as rodinhas auxiliares). No coco um chapéu colorido protegendo do sol. Eram felizes, entendi o equilíbrio.

peitoral

Silicone: alças ou seios?

segunda-feira, 12 de março de 2007

mínimo

Trocadilho é no fundo uma pequena troca, em tempos não generosos.

convés

É muito convescote, sinto-me mareado. Quero descer urgente.

bololô

Ontem, por telefone, descobri-me um homem novelo.

do departamento do amor

Recantos sem encaixe ou reencaixes sem encanto?

ruído rosa

Toda vez que tento me perder
Acabo me encontrando perto de você
Pode me dizer você faz isso por querer

Tento o mar que leva e traz sem parar
Seu ruído rosa me comove
Me faz lembrar
Que o amor é estranho
Que o amor não quer saber

Tento a tv
O dolby-surround a transforma
Num show sem igual
Pois afinal
O amor é estranho e sem forma
O amor é anormal

em função do presente histórico

Memória à saudade.

quarta-feira, 7 de março de 2007

vitrine

Desamá-la o suficiente para não desejar aquele imã de geladeira.

delicatessen

Para um sibarita:
- Prazer, delicadeza.
- Encantado.

psicodelicat

pausa.
para fotografação.
(ao ar livre)
risos.
- muito louco. vocês fizeram faz tempo?

lava-bundas

Lembro-me até hoje daqueles animados bailes. Sons de mini-helicópteros em batalha campal, vôos quase anfíbios em sobe e desce. Eu era pequeno e naquela piscina perdi as bóias. Sentia-me seguro ao lado das "libélulas que valsavam com seus vestidos de gaze e seus adereços de ametista".

terça-feira, 6 de março de 2007

contemporaneidade

Parece-me cada vez mais difícil elaborar as questões corretas.

A palavra

Alguma coisa que eu disse distraído - talvez palavras de algum poeta antigo - foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças.
Rio, novembro, 1959.
.
Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana

da lucidez

O rei riu daquilo e disse ao louco:
- Se eu te der a rainha, que quererás fazer com ela? Para onde a levarás?
- Lá para cima, entre o céu e a nuvem, para minha bela casa de vidro. O sol atravessa-a com seus raios, os ventos não a podem abalar; para lá levarei a rainha, para um quarto de cristal, todo florido com rosas, todo luminoso de manhã, quando o sol bate nele.

Joseph Bédier, O romance de Tristão e Isolda

segunda-feira, 5 de março de 2007

querência

Eu me apaixono por palavras, quase que diariamente. Querência foi uma dessas, faz bem uns quatro meses que a guardei como um rascunho de postagem.
O fato é que não dei conta dela, de tão bonita. Hoje resolvi escrever de querência mesmo assim: rincão, oca ou simples pasto. É o paradeiro onde o boi rumina, o local de nascimento ou a casa de alguém. Ninho de quero-quero feito de raízes por sobre o chão, local onde o pássaro passa mais tempo que no ar. É não saber-se ilha.
Pertencimento, querência é quase querença: "estar-se preso por vontade".

tarde

Minhas patas sabem acariciar.
O figo dela cabe exato.
Uma rajada de pássaros, como diria Olga Savary.

domingo

ENTRADA DE ANIMAIS SOMENTE NO COLO
.
O aviso na entrada da locadora não deixava dúvida.
Olhou para a esposa, do alto de seu rider e meio constrangido:
- Mor, será que você me agüenta?

domingo, 4 de março de 2007

001.4


felino


“D’azzurro, caricato a destra di una torre di rosso, aperta del campo finestrata di nero e merlata di due alla ghibellina, a sinistra di un leone al naturale tenente con le branche una rosa di rosso gambata di verde; al capo di cinque punti di rosso equipollenti a quattro d’argento, il tutto abbassato sotto un capo d’argento alla banda plintata in bande di nero e d’argento composte dell’uno all’altro”.

felicidade

É assim que devia ser sempre: o dia raiado depois do dia em que a tarde tardou e eu estive rodeado de pessoas que amo. Com direito a pôr-do-sol, eclipse da lua, sorvete e muito vinho.

sábado, 3 de março de 2007

a costura do invisível

Já não existe mais a posse da anterioridade, está tudo na web.
Jum Nakao

No desnudar d'alma, um olhar primo reinventado.
No exercício da dúvida, a reorganização estrutural.
Encontrar algum silêncio em montar caixas acústicas.
Como o poeta: repetir, repetir, repetir e repetir.
Até ficar diferente... (Do caos).

Não é que agora eu dei pra chorar em palestra!

sexta-feira, 2 de março de 2007

anitomia


da falta do novo, ou do excesso

Fim do dia, o menino parecia mais entendiado hoje do que sempre. Nenhum eletrônico estava bom; quiçá um almejado celular pudesse fazer algo por ele. Ainda não ganhara o seu, a despeito dos amigos aparelhados.

- Mamãe, eu não vou te falar porque você vai ficar brava.
- Pode falar filho, eu prefiro que você se abra comigo.
- Não, você não vai gostar do que eu tenho pra dizer.
- Mas filho, a mãe te ama, confia nela.
- Não, eu não vou conseguir...
Pausa, ambos procuram uma saída. A criança se sai com esta:
- Vamos fazer o seguinte, eu escrevo aqui num papel, você lê, mas não comenta, nunca!
- Tá bom filho, então escreve. Eu prometo não falar nada.
O menino entrega o bilhete dobradinho e desce para o jantar, conforme o combinado. A mãe, pensativa no quarto, lê em letras tremidas: "eu vou me suicidar".
Barulhos na escada, o filho apreensivo encontra a mãe sentada na cama:
- E aí, leu?
A mãe, fingindo naturalidade:
- Ora, eu prometi não comentar...

torto

com texto contesto o contexto

soslaio

Antes dos pecados íntimos ou depois deles todos. Hoje não chove.

antolhos

Sextas: nem tudo nas mesmas cestas.

quinta-feira, 1 de março de 2007

lembra


êxtase

Estado.

em breve


voluntariosa, 2

Abriu suas belas pernas em leque, esmolou com o olhar.

atoladinhas

Fenômeno atípico preocupa pecuaristas:
Junto com a nova onda de calor, os fins de tarde lilás têm levado as vacas para o brejo...

permanência

- Já acordou?
- Estou indo dormir.

voluntariosa

Abriu suas falsas asas em leque, nem olhou para baixo.

quarta-feira

"Mas é fantástico: o único elevador em que se pode concluir um diálogo".