sexta-feira, 30 de março de 2007
quinta-feira, 29 de março de 2007
quarta-feira, 28 de março de 2007
aceleração, páscoa
Sexto domingo da quaresma, pra abrir a nova semana e fechar a tristeza de vez. Ora em diante, felizes serão os dias do senhor.
segunda-feira, 26 de março de 2007
dentro do espelho
pastilha azul
pássaro morto
alma arruela
monstro gaviola
princesa macaca
brigadeiro pisado
lua sorriso
.
(com uma tristeza do outro lado)
sábado, 24 de março de 2007
sobreviventes
noturna
camisa de botão: o pum que deu certo chuta garrafa pet
umas duas]
matutina
fenômeno: um menino que come feno, um ruminante
quase onze]
(há quem nunca tenha visto um poeta)
camisa de botão: o pum que deu certo chuta garrafa pet
umas duas]
matutina
fenômeno: um menino que come feno, um ruminante
quase onze]
(há quem nunca tenha visto um poeta)
sexta-feira, 23 de março de 2007
ultrapassagem
Despassarado será aquele que passou além de, tal qual ave errante migrando. Cabeça fraca porque voa transpondo ovos, despassarinhando?
depois do sonho
O extrato debatia-se áspero nos blocos de concreto. Meu olhar, que o seguia, foi dar num homem moldado em árvore, esperando na sombra um desfecho. Nenhuma apoteóse: aquele seu cheiro é que me tirou do estado.
quinta-feira, 22 de março de 2007
claridade
Aquele bolo de nozes não seria nunca suficiente. Lúcida e coquete, caminha sem auxílio e lenta segue. Não entende o porquê da mulher nova, aquela que quer ser presidente; eu assinto, na discordância do novo homem, aquele que quer um creme anti-rugas. Mora lá, cá, acolá. Está soberana em todos os lugares há exatos noventa e oito anos. Tia Clara tosse.
dentro e fora
Enquanto penso no teclado, nem ligo pra barata aqui na mesa. Ela alucina em suas antenas, sem rumo, beija minha mão.
quarta-feira, 21 de março de 2007
terça-feira, 20 de março de 2007
labirinto, viajante
metade bicho metade homem.
metade homem metade bicho.
cindido entre a dúvida e a certeza:
sagitário, minotauro.
metade homem metade bicho.
cindido entre a dúvida e a certeza:
sagitário, minotauro.
segunda-feira, 19 de março de 2007
realidade
Depois que eu voltei da caça, preparou-me um coelho com polenta cremosa. Estava delicioso. Mantivemos a lareira acesa por toda a noite e nos entregamos à lascívia regada ao bom vinho. O céu era repleto de estrelas até que a alvorada rompeu de um laranja ofuscando. Fomos para o quarto, fechamos as persianas e dormimos enquanto.
domingo, 18 de março de 2007
sábado, 17 de março de 2007
sexta-feira, 16 de março de 2007
quarta-feira, 14 de março de 2007
terça-feira, 13 de março de 2007
madureza
E quando chegar o tempo da colheita, desceremos ao jardim logo cedo. À sombra do caramanchão, cuidado e tesoura, podaremos cada cacho. Já imagino teus pés na pisa e as canções no ritmo do trabalho. Beberemos do vinho toda noite.
semente do amanhã
Por mim, só peço que não desanime: será melhor saber que tudo isso foi motivo de uma mudança essencial. Então, um dia, poderemos olhar um nos olhos do outro e sorrir, na cumplicidade da memória. Até lá cultive o outro, não o mesmo. Morra de susto, nunca de tédio.
ternura matinal
Foi um afeto brando desperto no peito: o pequeno francês e sua mãe, meus vizinhos, na calçada dos arredores de casa. Ele alvo, frágil e de pernas roliças pedalava sozinho sua mini-bicicleta (já sem as rodinhas auxiliares). No coco um chapéu colorido protegendo do sol. Eram felizes, entendi o equilíbrio.
segunda-feira, 12 de março de 2007
ruído rosa
Toda vez que tento me perder
Acabo me encontrando perto de você
Pode me dizer você faz isso por querer
Tento o mar que leva e traz sem parar
Seu ruído rosa me comove
Me faz lembrar
Que o amor é estranho
Que o amor não quer saber
Tento a tv
O dolby-surround a transforma
Num show sem igual
Pois afinal
O amor é estranho e sem forma
O amor é anormal
Acabo me encontrando perto de você
Pode me dizer você faz isso por querer
Tento o mar que leva e traz sem parar
Seu ruído rosa me comove
Me faz lembrar
Que o amor é estranho
Que o amor não quer saber
Tento a tv
O dolby-surround a transforma
Num show sem igual
Pois afinal
O amor é estranho e sem forma
O amor é anormal
domingo, 11 de março de 2007
sábado, 10 de março de 2007
sexta-feira, 9 de março de 2007
quinta-feira, 8 de março de 2007
no tempo da flor
Na cidade, apelidavam-se as meninas em função da idade: as mais velhas eram as suzies, as mais novas as barbies.
Eu não comia nem fofolete!
Eu não comia nem fofolete!
quarta-feira, 7 de março de 2007
lava-bundas
Lembro-me até hoje daqueles animados bailes. Sons de mini-helicópteros em batalha campal, vôos quase anfíbios em sobe e desce. Eu era pequeno e naquela piscina perdi as bóias. Sentia-me seguro ao lado das "libélulas que valsavam com seus vestidos de gaze e seus adereços de ametista".
terça-feira, 6 de março de 2007
A palavra
Alguma coisa que eu disse distraído - talvez palavras de algum poeta antigo - foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças.
Rio, novembro, 1959.
.
Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana
da lucidez
O rei riu daquilo e disse ao louco:
- Se eu te der a rainha, que quererás fazer com ela? Para onde a levarás?
- Lá para cima, entre o céu e a nuvem, para minha bela casa de vidro. O sol atravessa-a com seus raios, os ventos não a podem abalar; para lá levarei a rainha, para um quarto de cristal, todo florido com rosas, todo luminoso de manhã, quando o sol bate nele.
Joseph Bédier, O romance de Tristão e Isolda
segunda-feira, 5 de março de 2007
querência
Eu me apaixono por palavras, quase que diariamente. Querência foi uma dessas, faz bem uns quatro meses que a guardei como um rascunho de postagem.
O fato é que não dei conta dela, de tão bonita. Hoje resolvi escrever de querência mesmo assim: rincão, oca ou simples pasto. É o paradeiro onde o boi rumina, o local de nascimento ou a casa de alguém. Ninho de quero-quero feito de raízes por sobre o chão, local onde o pássaro passa mais tempo que no ar. É não saber-se ilha.
Pertencimento, querência é quase querença: "estar-se preso por vontade".
O fato é que não dei conta dela, de tão bonita. Hoje resolvi escrever de querência mesmo assim: rincão, oca ou simples pasto. É o paradeiro onde o boi rumina, o local de nascimento ou a casa de alguém. Ninho de quero-quero feito de raízes por sobre o chão, local onde o pássaro passa mais tempo que no ar. É não saber-se ilha.
Pertencimento, querência é quase querença: "estar-se preso por vontade".
tarde
Minhas patas sabem acariciar.
O figo dela cabe exato.
Uma rajada de pássaros, como diria Olga Savary.
O figo dela cabe exato.
Uma rajada de pássaros, como diria Olga Savary.
domingo
ENTRADA DE ANIMAIS SOMENTE NO COLO
.
O aviso na entrada da locadora não deixava dúvida.
Olhou para a esposa, do alto de seu rider e meio constrangido:
- Mor, será que você me agüenta?
domingo, 4 de março de 2007
felino
“D’azzurro, caricato a destra di una torre di rosso, aperta del campo finestrata di nero e merlata di due alla ghibellina, a sinistra di un leone al naturale tenente con le branche una rosa di rosso gambata di verde; al capo di cinque punti di rosso equipollenti a quattro d’argento, il tutto abbassato sotto un capo d’argento alla banda plintata in bande di nero e d’argento composte dell’uno all’altro”.
felicidade
É assim que devia ser sempre: o dia raiado depois do dia em que a tarde tardou e eu estive rodeado de pessoas que amo. Com direito a pôr-do-sol, eclipse da lua, sorvete e muito vinho.
sábado, 3 de março de 2007
a costura do invisível
Já não existe mais a posse da anterioridade, está tudo na web.
Jum Nakao
No desnudar d'alma, um olhar primo reinventado.
No exercício da dúvida, a reorganização estrutural.
Encontrar algum silêncio em montar caixas acústicas.
Como o poeta: repetir, repetir, repetir e repetir.
Até ficar diferente... (Do caos).
Não é que agora eu dei pra chorar em palestra!
sexta-feira, 2 de março de 2007
da falta do novo, ou do excesso
Fim do dia, o menino parecia mais entendiado hoje do que sempre. Nenhum eletrônico estava bom; quiçá um almejado celular pudesse fazer algo por ele. Ainda não ganhara o seu, a despeito dos amigos aparelhados.
- Mamãe, eu não vou te falar porque você vai ficar brava.
- Pode falar filho, eu prefiro que você se abra comigo.
- Não, você não vai gostar do que eu tenho pra dizer.
- Mas filho, a mãe te ama, confia nela.
- Não, eu não vou conseguir...
Pausa, ambos procuram uma saída. A criança se sai com esta:
- Vamos fazer o seguinte, eu escrevo aqui num papel, você lê, mas não comenta, nunca!
- Tá bom filho, então escreve. Eu prometo não falar nada.
O menino entrega o bilhete dobradinho e desce para o jantar, conforme o combinado. A mãe, pensativa no quarto, lê em letras tremidas: "eu vou me suicidar".
Barulhos na escada, o filho apreensivo encontra a mãe sentada na cama:
- E aí, leu?
A mãe, fingindo naturalidade:
- Ora, eu prometi não comentar...
- Mamãe, eu não vou te falar porque você vai ficar brava.
- Pode falar filho, eu prefiro que você se abra comigo.
- Não, você não vai gostar do que eu tenho pra dizer.
- Mas filho, a mãe te ama, confia nela.
- Não, eu não vou conseguir...
Pausa, ambos procuram uma saída. A criança se sai com esta:
- Vamos fazer o seguinte, eu escrevo aqui num papel, você lê, mas não comenta, nunca!
- Tá bom filho, então escreve. Eu prometo não falar nada.
O menino entrega o bilhete dobradinho e desce para o jantar, conforme o combinado. A mãe, pensativa no quarto, lê em letras tremidas: "eu vou me suicidar".
Barulhos na escada, o filho apreensivo encontra a mãe sentada na cama:
- E aí, leu?
A mãe, fingindo naturalidade:
- Ora, eu prometi não comentar...
quinta-feira, 1 de março de 2007
atoladinhas
Fenômeno atípico preocupa pecuaristas:
Junto com a nova onda de calor, os fins de tarde lilás têm levado as vacas para o brejo...
Junto com a nova onda de calor, os fins de tarde lilás têm levado as vacas para o brejo...
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