quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

encontro

Eles se conheceram quase que ali, no desembarque do aeroporto. Tinham trocado correspondências por um tempo. Entre um e outro abraço o deles, demorado (sentiram-se os cheiros). Ele trouxera na mochila, em embrulho caprichado, um coração de pedra, que ela deveria pendurar em casa. Ela trouxera na mala, entre recordações de viagem, um disco de Bob Dylan, que ele deveria ouvir bem alto. Despediram-se ali mesmo. No andar superior, era a vez do embarque dele.

4 comentários:

Anônimo disse...

crise e amor nos aeroportos

Anônimo disse...

O que há em mim é sobretudo cansaço
- Não disto nem daquilo,
nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
- Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
- Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
porque eu amo infinitamente o finito,
porque eu desejo impossivelmente o possível,
porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
para eles o sonho sonhado ou vivido,
para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço...

Álvaro de Campos

juliana amaral disse...

por que tem gente que gosta de dar título ao que já está certo e nomeado?

Anônimo disse...

É, não tem jeito. O Álvaro de Campos é o maioral.