segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Férias na tristeza

“De tantas flôres crioulas – as marrequinhas encarnadas da corticeira, as pencas amarelas da maria-mole ondulando no campo, os bibis que respingam em qualquer encosta verde o seu primeiro roxo mais vistoso, o espinilho dourando ao sol, o biri do banhado e a flor azul do tarumã – escolho sem hesitação a menos florida, a menos flor de tôdas; esta felpinha cheirosa do maricá de beira de estrada ou do pasto alagadiço, que me fala de umas férias sentimentais na Tristeza daquele tempo, quando começava a descobrir a poesia amorosa das cousas, recordação para sempre associada ao aroma. E êste perfume tão fino, tão discreto (quase a sombra de um perfume), não podia deixar de ser assim mesmo: a alma daquela penugem da flor que logo murcha, uma evanescência cheirosa, muito mais imaginada que sentida – leve pungir de saudade mal aflorando na lembrança...”

Augusto Meyer, No tempo da flor

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